A próxima startup de 100 milhões de euros

A próxima startup de 100 milhões de euros

Eis a premissa de todas as aceleradoras que conheço em Portugal! Propõem encontrar a próxima empresa, com um fundador Português, que facture 100 milhões de euros. Algumas até ambicionam a encontrar a próxima que atinja os 1.000 milhões de euros!

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Não quero ser mal interpretado. As aceleradoras e concursos em Portugal têm muito mérito, percorreram uma distância enorme  e estão a fazer um trabalho notório a promover o empreendedorismo em Portugal. Dou especial destaque à Beta-i, à StartupLisboa, à StartupBraga entre muitas outras que todos os dias trabalham para atrair investidores e promover as nossas “startups”.

Gosto da ideia de sermos ambiciosos, de desejarmos que uma destas empresas que participam nestes programas atinja o sucesso e seja a próxima “Google” ou o próximo “Facebook”.

Existem eventos mensais a falar de startups, fazem-se encontros de potenciais empreendedores numa base quinzenal e vários agentes políticos promovem esta mensagem. Nascem, assim, novas aceleradoras todos os anos. Mas será que estão a ir na direcção que Portugal precisa?

Sabendo que nos Estados Unidos, 50% das empresas não sobrevive no 1º ano, que 20% chega aos 5 anos e que apenas 4% chega aos 10 anos, será que procurar ser a próxima “Google” não é o mesmo que jogar à lotaria?

Se não vejamos, num total de empresas criadas num ano, apenas 5% chega a fazer 1 milhão de euros/ano e somente 6 em cada 100 mil empresas é que atinge os 10 milhões de euros/ano. Não será seguro afirmar que encontrar uma empresa que atinja os 1.000 milhões de euros é mesmo tentar encontrar a agulha no palheiro?

Precisamos de encontrar as próximas 100 empresas que façam 1 milhão de euros

Francamente, considero mais produtivo e eficaz para o País ambicionarmos produzir 100 empreendedores que conseguem atingir a marca de 1 milhão de euros, do que termos 1 empreendedor que atingiu os 100 milhões.

Portugal precisa de empreendedores como de pão para a boca. Vivemos num país que viveu demasiado tempo sobre uma mensagem de que tudo nos é fornecido pelo Estado e precisamos urgentemente de pessoas que queiram arriscar e fazer mais para melhorar a sua qualidade de vida e a dos que os rodeiam.

Gostava de ver toda a energia gasta nestes eventos à procura da próxima grande ideia milionária, aplicada, sim, na criação de múltiplos pequenos negócios com potencial para crescerem.

Qual o papel das aceleradoras neste processo?

Gostava de ver as aceleradoras a serem isso mesmo, locais onde seja possível termos acesso a recursos e a pessoas que saibam como fazer crescer um negócio. A atrair e recrutar talento e a descobrir qual a melhor cultura para o seu negócio.

Apreciava que ajudassem a descobrir qual o melhor caminho para se tornarem num negócio saudável, que gera dinheiro para os seus “stakeholders” – investidores, proprietários, colaboradores e fornecedores.

 

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Em vez disso, a percepção que tenho das aceleradoras é que o foco está em levantar capital. Ensina-se que o importante é conseguir chegar a Sillicon Valley para levantar milhões. Milhões para quê? Sempre que perguntei para que precisam do dinheiro a qualquer um dos participantes destes concursos a quem fiz mentoring não me souberam dizer. Para eles a meta era levantar dinheiro. Quanto mais, melhor.

As startups que conseguem levantar 100k€/1M€/10M€ são promovidas nos media como as grandes heroínas deste jogo. Quem consegue levantar dinheiro está no caminho “certo”.

Fazer receitas, angariar clientes, servir uma comunidade, gerar lucros ou libertar dinheiro é algo que fica para segundo plano. O importante é ganhar os concursos. É ir às galas e apresentar  a sua ideia para os nossos dirigentes políticos aplaudirem e se sentirem úteis no “apoio às empresas”.

Sinto que estamos a perder uma oportunidade de ouro de educar e criar a próxima geração de empreendedores. O foco está no sítio errado. Não nos preocupamos em criar negócios, mas em criar “startups”. E isso é um erro crasso.

No meu entender, o papel das aceleradoras é o de formar e dotar líderes de negócios com competências e recursos necessários para chegar ao crescimento económico. E naturalmente, participar nesse crescimento. Caso seja necessário levantar capital, as aceleradores podem e devem ajudar a fazê-lo, mas esse não deve ser o seu principal foco.

Faz sentido haver concursos de startups?

Não faz sentido nenhum. Penso que o objectivo de se mostrarem ideias a investidores não devia ser no formato de um concurso. Se a meta é promover o encontro entre investidores e “empreendedores” que procuram dinheiro então para que serve haver um vencedor?

Não faz sentido premiar ideias.  Com qualquer ideia de negócio é fácil de apresentar 100 empresas que faliram e 1 que teve sucesso. Nunca foi, nem nunca será o mais importante “o que fazemos”, mas sim “como o fazemos”.  Os concursos de startups premeiam “o que fazemos”: A ideia. E isso é idiota pois o empreendorismo fica para segundo plano.

Quanto muito faz sentido haverem prémios que promovem as empresas que atingiram algum patamar significativo. Seja no crescimento mais rápido, na geração de lucros, na criação de emprego, etc. Isso sim, podia e devia ser premiado! Deste modo, os incentivos ficariam alinhados com o crescimento económico.

Um concurso onde se apresentam ideias e no final o prémio é investimento em troca de equity é incentivar os princípios errados. Realmente, só a ideia de “ganhar” um investimento é errada. Um investidor não “dá” nada. Ele investe com a perspectiva última de fazer mais dinheiro do que aquele que lá colocou.

Precisamos de nos focar em encontrar os próximos 100 empreendedores que vão atingir a marca de 1 milhão de euros.

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